A Hierarquia na Prática de Vipassana

por Daniel Ingram

Tradução: Bernardo Vasconcelos

Em conversas recentes com amigos, percebi que nunca havia botado no papel a minha concepção de hieranquia e essência na prática de vipassana, pelo o menos não que pudesse me lembrar. Este texto está mais direcionado para o tipo de prática e concentração desenvolvidos durante um retiro, mas pode bem ser aplicado na prática diária daquelas pessoas que se esforçam ou que são diligentes e habilidosas (ou que pelo o menos aspiram tornar-se).

Seria bom começar do fim, mesmo que apenas para manter os objetivos em mente:

Você está buscando o Insight da Conformidade, Insight #12, no qual o meditante entende simultaneamente duas das três características de todo o campo da experiência, incluindo espaço, consciência e tudo mais contido nela como um todo integrado. Isso é o mínimo onde você deve mirar se estiver buscando a entrada na correnteza, e o mesmo parâmetro funciona bem para os estágios subsequentes à entrada na correnteza.

No entanto, voltemos ao início, onde todos começam, e para onde a maioria retorna, apenas para começar novamente.

1) Nem ao menos tentando praticar, perdido em pensamentos, distraído e com pouca atenção plena.

2) Pouca atenção plena e perdido em pensamentos, mas ao menos tentando alguma técnica mesmo que sem muito sucesso. As pessoas perdem retiros inteiros neste nível.

3) Capaz de seguir as instruções de algum modo, como notar, varrer o corpo, ou ainda outra diferente. Não estou focando em uma técnica específica aqui, mas na essência das coisas. Basicamente, qualquer técnica, objeto e postura que te faz crescer nesta hierarquia e te mantém lá é o que importa; e nada das especificidades do objeto que você está utilizando ou da postura escolhida fazem diferença contando que sirva a este objetivo fundamental.

4) Capaz de realizar uma prática de vipassana ou conjunto de técnicas com poucas interrupções.

5) Capaz de fazer isso sem interrupções.

6) Capaz de perceber diretamente as Três Características dos objetos centrais da atenção diretamente e com consistência, independete de uma técnica específica. Se você pode fazer isso, naquele momento e pelo tempo que durar, se você usa ou não uma técnica específica, isso é irrelevante.

7) Capaz de perceber continuamente e diretamente as sensações que compõe o pano de fundo da experiência na mesma luz daquela atenção clara de vipassana, significando uma compreensão direta das Três Características.

Desta vez não apenas dos objetos predominantes, mas também do rapto, equanimidade, medo, dúvida, frustração, análise, expectativas e outras sensações da periferia; igualmente de outros objetos, assim que surgem, como pensamentos e emoções, bem como do objeto(s) primário(s); assumindo que você esteja utilizando algum, o que não é mais necessário neste ponto.

8) Ser capaz de realizar #7 muito bem e adicionar processos mais centrais, como as sensações que compõe a atenção ela mesma, intenções, memória, esforço, espaço, consciência, aceitação, medo sutil, e tudo que parece compor um Eu ou sujeito observador em todo o corpo – incluindo crânio, pescoço, peito, abdômen e etc - em uma atenção sincronizada com todos os fenômenos surgindo que engloba tudo e penetra instantaneamente com clareza.

9) Capaz de realizar #8 naturalmente sem nenhum esforço graças à este novo patamar perceptivo.

10) Estamos de volta onde começamos: capaz de compreender simultaneamente duas das três características de todo o campo da experiência, incluindo espaço, consciência e tudo mais contido nela como um todo integrado. O que se segue são Mudança de Linhagem, Caminho e a Fruição.

Com esta hierarquia em mente muitas questões são respondidas diretamente ou com poucas informações adicionais:

P: Faz diferença o objeto que uso?

R: Apenas se algum objeto te ajuda a permanecer acima dos patamares mais baixos deste hierarquia e de preferência a progredir nela.

P: Faz diferença se minha concentração/foco for aberto ou fechado?

R: Se você pode focar exclusivamente na respiração e compreender as sensações que compõe tanto a respiração quanto o aparato perceptivo (a atenção), isso é tudo que você precisa entender. Se você não consegue focá-la, mas alcançou através de um esforço diligente uma fluência em uma variedade maior de outras sensações, então um foco aberto funcionará tão bem quanto.

P: Faz diferença a técnica que uso?

R: Eu diria para usar qualquer técnica, foco, objeto, postura e qualquer outro fator que precise ser alterado - em qualquer medida necessária - para te ajudar a subir na hierarquia e permanecer lá. Isso é uma postura pragmática com relação à vipassana por oposição à uma tradicionalista. Se uma abordagem tradicionalista te ajuda a progredir na hierarquia, então não há conflito algum. Se a abordagem tradicional não estiver te ajudando nesta hora, mês, ano, então tente alterar alguns fatores, e de preferência com a ajuda de um bom professor - se houver um disponível - e veja se ajuda.

P: Quando devo parar de notar e apenas prestar atenção?

R: Você pode definitivamente parar quando estiver em #6 ou acima, mas também pode continuar, contando que isso não te atrase ou limite sua habilidade de perceber o que esta surgindo em sua totalidade.

P: Qual técnica é melhor: notação, varredura, koan ou outra?

R: O que quer que te ajude a progredir e se estabilizar acima do níveis mais baixos da hierarquia. Mas note: técnicas levam tempo para serem aprendidas, então continuamente abandonar uma técnica mal aprendida por outra não irá trazer nenhum benefício; contudo, se tiver aprendido bem algumas técnicas, utiliza qualquer uma que ajudar. Para a maior parte das pessoas este é um processo dinâmico e não-linear, com muitos altos e baixos na hierarquia. Aprender a mudar o foco e a abordagem assim que for necessário é uma habilidade a ser aprendida através de prática e vigilância constante. Ter os objetivos em mente ajudará nesta tarefa.

Um exemplo, digamos que você está utilizando notação lenta e consistente e alcançou o estágio dois do progresso do insight, Causa e Efeito, mas dor nas costas começou a dificultar suas tentativas de alcançar o estágio 3, As Três Características, e durante este período você caiu de volta para uma prática ineficiente. Você poderia refletir: “Ah, eu não consigo mais notar lentamente, mas eu deveria pelo o menos tentar notar lentamente e talvez escolher atentamente uma postura diferente que não seja tão dolorosa por um tempo.”

Supondo que notando até estágio das Três Características, você comece a perceber fenômenos energéticos, calor e kundalini que são rápidos demais para notar, e neste ponto você poderia refletir: “Ah, a varredura do corpo que eu aprendi com o Goenka naquele último retiro funcionou muito bem da última vez em que estive neste estágio, talvez eu devesser tentar e ver como funciona agora.”

Você pode estar mandando brasa no insight #4, Surgir e Passar, percebendo agil e diretamente vibrações rápidas e pequenos padrões de interferência, até chegar no insight #5, Dissolução, e perceber que a prática está fora dos trilhos e você está apenas distraído o tempo todo. Você poderia refletir: “Eu estava indo bem no Conhecimento do Surgir e Passar, mas agora a prática caiu de volta no fundo do poço, talvez eu devesser tentar notar lentamente novamente até me erguer e poder perceber diretamente de novo – o quer será melhor do que me debater contra mim mesmo inutilmente.” Bom plano.

Estando no estágio da Equanimidade, mas ainda sem conseguir alcançar uma Fruição, você pode se perguntar: “Quais processos centrais, sentações sutis no primeiro e segundo plano, ou outros padrões da experiência eu ainda não consegui trazer à luz como tantos outros objetos?” Deste modo você verá o que está faltando, e aprenderá a ver estes novos objetos naturalmente também.

Trabalhando deste modo é possível ter uma ideia de como proceder para acomodar o que está acontecendo e continuar navegando o fluxo de mudanças que a prática de vipassana, em todas as suas formas, proporciona.

Um guia para a entrada na Correnteza

("A Slacker's guide to Strem-Entry")

por Tarin Grego

Tradução: Bernardo Vasconcelos

Bem vindo a minha primeira, e possivelmente, última publicação. O material que eu apresento aqui é baseado em minha própria experiência e em inferências feitas sobre elas. Escrevo para leitores já familiarizados com a prática da meditação do insight (vipassana), e os mapas e modelos que descrevem os estágios desta meditação (particularmente o modelo dos quatro caminhos da tradição theravada); e com o uso de algum vocabulário técnico - comumente utilizado para descrever estas coisas – que pode iludir as pessoas não familiarizadas com este background quanto ao significado do que descrevo. Por exemplo, se você não sabe o que é a 'entrada na correnteza' (ou o primeiro nível do despertar), ou por quê você deveria buscar isso, este texto vai servir no máximo para instigar sua curiosidade, e na pior das hipóteses, vai ser entediante e confuso. Se, por outro lado, você faz parte da ala ortodoxa que prega, de uma maneira ou outra, que nirvana é algo além do alcance real dos praticantes, e que portanto deve ser algo mítico, dada a sua impossibilidade de ser alcançado, este texto será inútil e você não irá acreditar em mim...  

Este texto deve ser lido como um apêndice ao livro Mastering The Core Teachings of the Buddha de Daniel Ingram, para o qual eu irei constantemente me referir; pois mesmo que este ensaio possa ser instrutivo por si - e de fato, pode ser uma leitura chave para aqueles com um temperamento e estilo de prática (além de fraquezas e dificuldades) próximas às minhas próprias – ele não oferece um tratamento abrangente o bastante dos aspectos práticos e teóricos da meditação do insight que um iniciante (ou qualquer pessoas para este propósito) necessitará.O que este texto oferece é uma exposição da maneira adequada de se fazer um retiro de meditação, ou seja, a atitude correta para se alcançar o primeiro nível do despertar.

Suas funções primárias são:

  1. expor como alguém, disposto a dar tudo o que tem, pode alcançar a entrada na correnteza através de práticas de insight (e como, se este é você, isso significa que você pode fazer isso).

  1. oferecer dicas sobre o que você pode estar fazendo de errado se você está tentando isso a algum tempo e ainda não aconteceu.

Segundo tive notícia até hoje, a maior parte das pessoas alcança o primeiro nível de realização (correpondente à entrada na correnteza) em retiros intensos de prática. Este primeiro nível é conhecido por ser particularmente escorregadio pois exige que todo o campo de experiência da mente faça algo que nunca fez antes, isto é, desaparecer completamente. Surgir e cessar completamente e sem deixar rastros. O que é necessário para que isso aconteça pela primeira vez não é claro para mim: foco, concentração, sincronia; e uma disposição incrivelmente poderosa em níveis profundos. São os meus palpites. Independete disso, o que quer que seja necessário tende a ocorrer em retiros. Foi o que ouvi dizer e foi o que aconteceu comigo. Assim, vamos falar sobre como ir a um retiro.

É preciso dizer que você pode ir tanto a um centro de meditação como fazê-lo por conta própria. Se optar pela primeira opção, haverão regras a serem seguidas e uma agenda a se manter. Se optar pela segunda, deverá criar uma agenda própria e mantê-la. Em um centro, haverão pessoas cozinhando sua comida, além de várias outras fazendo o mesmo que você (i.e. praticando), para lembrá-lo de permanecer disciplinado. Se estiver em um retiro pessoal, você terá o benefício da solidão, o que pode gerar uma concentração poderosa e muito foco, mas você terá que preparar sua própria comida e ser sua própria motivação; em todo caso, o importante será manter a rotina simples. Ambos tipo de retiro tem suas vantagens e desvantagens, o importante é ter a mesma atitude de trabalhar duro de formaindependente. Não se deixe levar pelos devaneios! Preste atenção a cada pedacinho de segundo. Pratique mesmo quando não conseguir ver mais o propósito de praticar.

Eu devo mencionar, para aqueles não familiarizados com Matering The Core Teachings of the Buddha que minha expectativas são altamente influenciadas pela tradição Mahasi Sayadaw. Isso significa engajamento em uma práticacontínua: momento-a-momento e initerrupta durante todo o tempo em que você estiver acordado. Desde antes de abrir os olhos na cama pela manhã, até apagar durante a noite; e isso não é bricadeira. Se você não estiver eventualmente afetado ou até mesmo neurótico com relação ao fato de estar se esforçando o bastante na atenção momento-a-momento, então você provavelmente não esta. Sempre escutamos dizer como práticas de insight necessitam de um esforço equilibrado e até mesmo tranquilidade; no entando, vários de meus amigos que se tornaram arahants (i.e. pessoas que alcançaram o último nível do despertar) estão absolutamente convencidos de que 99% dos meditantes erram na direção do esforço deficiente. Se você está convencido de que em verdade está no 1% restante, então este texto não é para você. Similarmente, existem tradições que fazem retiros em um estilo mais relaxado; deixando de utilizar cada minuto do dia para a prática alternada entre períodos de foco intenso na prática formal e períodos de atenção constante porém gentil ao descanso, ou períodos de atividade (como na uma hora diária de meditação trabalhando - comum em vários centros). São escolhas! Sei apenas que dar um duro desgraçado continuamente funcionou para mim e tantos outros. Excessivo? Mórbido? Possivelmente, mas experimente ver como você se sente ao sair de mais um retiro sem ter alcançado absolutamente nada em termos de progresso do insight pensando que você poderia ter se aplicado melhor.

Dissemos o bastante à guisa de introdução. O que é necessário para progredir?

1 - Comece acreditando que você pode.

Esse item é absolutamente fundamental. No que quer que faça, tenha certeza de que se trata de um objetivo possível. 

Se sente cético? Por quê? Outros já fizeram! Converse com eles (existem vários por aí!). Não conhece ninguém? Absolutamente ninguém para conversar sobre isso? Já tentou no seu centro de meditação ou grupo de prática mais próximo? Então procure na internet: Dharma Overground, Kenneth Folk's Dharma, etc. Independente de onde for, converse com elas até você entender e aceitar que despertar ou iluminação espiritual, independente do nome, é algo real e que faz parte da vida cotidiana de muitas pessoas. Nada de outro mundo...

Isso é importante para que você não compartimentalize suas expectativas acerca da iluminação espiritual e se dissocie da sua experiência de estar vivo aqui e agora no momento presente. Não coloque a iluminação naquela categoria mental de coisas fantásticas que irão despencar magicamento do céu em algum dia. Se você pensa que apenas porque você fez alguns retiros e flertou com a ideia isso não está acontecendo, pense melhor. Esse é um hábito difícil de não criar, e uma vez estabelecido é difícil de abandonar. Passei nove anos no caminho, alguns deles como um monge, e eu ainda me sabotava com isso. Você também passa por isso? Se pega em devaneios, imaginando iluminação espiritual acontecendo como você se imagina ganhando na loteria? Investigue seriamente, e se descobrir que sim, preste bem atenção a isso. É altamente enfraquecedor e desestimulante para você e sua mente supor que a iluminação é algo que pode existir apenas nas histórias que você conta para si próprio sobre um mesmo sobre um futuro possível. Comece a buscar por ela aqui e agora, ao seu redor e através de você. Mas o que significa buscar por isso?

2 - Seguir as instruções do retiro como se sua vida dependesse disso.

Seguir as instruções significa apenas fazer os exercícios que você aprendeu com o professor; e a práticas de insight nada mais é do que ver as coisas como elas são.

Na tradição Mahasi, e na maior parte da tradição theravada ao redor do mundo, a prática de insight signica apenas prestar atenção a qualquer uma das três características que podem ser encontradas em qualquer instância da experiência. Elas são as características da impermanência (fluidez), sofrimento (tensão fundamental, desconforto) e não-eu (o fato de que não há ninguém que controla a experiência, sendo que ela apenas ocorre por si).

Daniel Ingram coloca grande enfâse neste ponto, e eu me beneficiei dele. Eu irei me contradizer mais adiante, mas por hora, se você for utilizar a prática de notação, parta do pressuposto de que ver algum aspecto das três características é o único modo de você chegar a algum lugar. Faça isso e se lembre que de modo geral você deve:

3 - Colocar mais esforço do que acha que é preciso.

Pode parecer não-natural trabalhar tão duro, mas o progresso do insight pode ser bem não-natural também. Será que você não poderia trabalhar tão duro que isso iria atrapalhar? Improvável! A entrada na correnteza é um tiro no escuro, e seu destino é errar várias vezes até acertar. (Até sua mente acertar o ritmo e descobrir como rimar no tempo certo - e desaparecer no tempo certo). É um processo de tentativa e erro que faz parte do aprendizado natural. Você não pode forçar isso, mas você pode excluir essa possibilidade de erro. Cada momento contribui para este aprendizado, portanto:

4 - Continue praticando, não pare.

Não por um momento, nem por um segundo, não dê mole; e não se permita nada que irá te incentivar a dar mole em seguida. O universo está contido em um grão de areia. O universo neste momento. Se você trabalhar assim, com essa intensidade, mesmo que não alcance a correnteza vai ganhar insights que irão beneficiar serimente a sua vida de um modo que nada mais te permitiria. Trabalhe com o tipo de imediatez que foca no que está presente aqui agora, e que realça a relação e o engajamento que você tem com isso. E se você escorregar e perceber que não consegue retornar à sua prática de ponta:

5 - Perceba os momentos no qual você torna as coisas mais difíceis para você mesmo.

Dualidades artificiais e problemas sem sentido. Devo fazer isso, ou aquilo? Isso vai funcionar, ou vai apenas atrapalhar? A falta de foco no sujeito ou no objeto fazem coisas que não são realmente contraditórias parecerem assim, e a medida que você entra neste loop você começa a enxergar problemas que são apenas criações da sua mente. O terceiro estágio do insight (conhecimento das três características) e os estágios finais da noite escura (que vai de #5-9) tendem a potencializarem esta tendência. A melhor maneira de lidar com ela é continuar praticando da melhor maneira que você puder. Algumas vezes, absolutamente nada funciona. Então note o sofrimento, note a ansiedade, note a confusão, note o descontentamento, note a inquietação, etc. Se familiarize com os meios pelos quais sua mente esperneia e tenta evitar o sofrimento, e tente se sentir à vontade com isso. Sofrimento é uma parte do mundo e não tem de ser um obstáculo na prática, então preste atenção a ele. O que é a experiência do sofrimento? Está é uma questão de importância real, e a resposta é algo como 'o mundo inteiro nesse momento'. Nada fora desse momento vai fornecer esta resposta particular para você, porque na verdade você está olhando para compreender algo a respeito desse momento mesmo. Sofrimento é frequentemente uma indicação clara de o que deve ser observado para que você entenda isso. Assim, os momentos difíceis são excelentes oportunidades para internalizar esta compreensão necessária. Aceite-os quando surgirem e faça o melhor deles. Quanto mais confortável você estiver em seu próprio sofrimento, mais claramente você verá com o que você tem de lidar, e saber isso é fundamental para:

6 - Descobrir por si mesmo.

Se você estiver escalando uma montanha e o caminho estiver bloqueado é um problema seu descobrir um outro caminho e continuar subindo. Neste ponto, é totalmente entre você e a realidade; e este não é um ponto que você pode localizar em um mapa, este é um ponto que acontece quando você percebe que tem de ser deste modo. Esta é uma percepção de que a realidade não é algo que está acontecendo em uma histórinha em algum outro lugar, mas aqui mesmo e agora. Você não precisa de um intermediário para perceber isso; é algo que nenhuma técnica, nenhum ensinamento, nenhum professor, não importa o quão útil, pode fazer por você. A relevância de todas estas coisas simplesmente se vai, e o que resta é a parte relevanta com a qual você está tendo a experiência. Então vá se acostumando com ter continuar por conta própria. Esse é um ponto fundamental, e eu suspeito que muitas pessoas não alcançam aquilo de que elas já são capazes por pura falta de espírito e de coragem. Não tenha medo de se aventurar!! E...

7 – Aprenda a se divertir!

Eu sei o quão fora de lugar isso parece depois todo aquele discurso sobre trabalhar duro e sem pausas. Mas é isso mesmo: não se esqueça de se divertir. As coisas mudam, fluem, rolam aos trancos e barrancos, mesmo porque você está trabalhando com tudo que tem. Não deixe de aproveitar o que você está fazendo, pois você está fazendo isso para você mesmo. Ir para um retiro é um meio para se livrar de sofrimento desnecessário, e tornar sua vida melhor para você mesmo; então, se não há uma parte de você que aprecia isso, ou esta compreensão, deve haver algo faltando. De fato, haverão momentos nos quais você duvidará profundamente de que qualquer pessoa, principalmente você, poderá se beneficiar deste processo de alguma maneira. Estes momentos são uma boa oportunidade para permanecer apenas com a experiência visceral de como as coisas são. Eles costumam não durar muito, e se você assim desejar, poderá começar a se divertir muito em breve; e eu recomendo que faça isso.

É um territória amplo, rico e variado o que você está navegando, e você poderá se esquecer de seu propósito e direção várias vezes. Acertar os ponteiros e dar o próximo passo adiante envolverá um processo de tentativa e erro em níveis bem primários e básicos. Sua mente poderá fazer coisas engraçadas, desconexas e inutéis. Este é uma efeito colateral natural de estar vivo e aprendendo coisas novas. Continue engajado com a realidade, e aprenda a ver o lado bom e mais suave das coisas. Fique à vontade com suas mudanças de humor. Se acontume com necessidades conflituosas; e se sinta em casa com toda as tentivas de mapear seu progresso, teorizar sobre meditação, prever o que irá acontecer, imaginar e criar expectativas; todas estas atividades intelectuais neuróticas que irão acontecer independentemente de você julgá-las úteis ou não. Estas coisas não são sinais de um regresso, então não se desanime; tome-as como sinal de que você não está no controle ou está sem foco (ou do que quer que seja o vilão dessa vez). Expectativas ou tentativas de prever o próximo passo, bem como outras dificuldades, são apenas parte do processo que sua mente tem que atravessar e da mesma realidade que você está tentando investigar. Não as tome como obstáculos, pois é a compreesão da natureza destes fenômenos que constitue o insight. Assim como todas as outras sensações, elas são dependentes de causas e condições, vazias e autônomas. Manter um senso de humor com relação às surpresas do caminho, bem como um espírito de curiosidade podem te levar longe quando as coisas ficarem tediosas e você tiver gasto todas as suas opções.

Haverá um momento na prática (depois da noite escura - fundo no território da equanimidade com relação às formações) no qual não será mais necessário prestar atenção às três características. Na verdade, não será necessário fazer mais nada. Tudo ocorrerá por conta própria. Se você chegar até esse ponto apenas continue com as coisas como elas acontecem, e continue praticando o melhor que puder. Daqui para frente você está por conta própria, não que você já não estivesse...

Apêndice:

Um bom exemplo de agenda a ser seguia em um retiro:

4.30 acordar

5.00 meditação andando

6.00 meditação sentada

7.00 café da manhã

7.30 andar

8.00 sentar

9.00 andar

10.00 sentar

11.00 andar

12.00 almoço, banho, etc.

13.00 andar

14.00 sentar

15.00 andar

16.00 sentar

17.00 andar

18.00 sentar

19.00 andar

20.00 sentar

21.00 andar

22.00 sentar

22.30 descanço

Menssagens para tomar nota e prender à vista:

1 – Não se perca em sua lama mental.

2 - Quando em dúvida ou conflito: apenas note e aceite a dor.

3 – Se você tem uma pergunta: a resposta está nas três características.

4 – Esteja atento durante as transições entre atividades.

5 – Análise não é o mesmo que prática.

6 – Pratique a todo momento enquanto estiver acordado!

7 – Mantenha a rotina da prática!

8 – Se lembre do quanto este momento é valioso e o quanto a noite escura é uma porcaria.

9 – Quando estiver sozinho, dê duro do mesmo modo; isso é para você mesmo.